Pesquisas mostram como o cérebro humano tem necessidade de buscar um estímulo constantemente. A gente percebe como é difícil falar com uma pessoa se há uma televisão ligada ao fundo ou uma música alta tocando, por exemplo.
De forma inconsciente, nossos olhos ficam procurando a tela, prestando atenção nas imagens, independentemente do que estiver passando, ou a música faz com que a gente cante automaticamente e não foque no que está sendo falado conosco.
Essa mudança constante, esse estímulo, é um alimento para o nosso cérebro, trazendo uma nova informação, mesmo que pareça inútil. Se isso acontece até com os adultos, imagine só o que acontece com as crianças. Essa necessidade de estimulação se torna ainda mais problemática quando levamos em conta a importância do tédio para as crianças.
É muito comum aquele suspiro de desabafo reclamão quando sentimos algum tédio. Adultos sentem isso. Crianças sentem isso e, no caso delas, não sabem ainda como lidar com isso.
Contudo, importante saber que o tédio também tem sua importância no desenvolvimento da criança.
Infelizmente, os eletrônicos tomaram conta de boa parte do nosso dia, seja a tv, o computador, celular, tablet, o uso é muito frequente e vamos nos apegando a isso como ferramenta principal para supri nossa necessidade de estímulo. Mas isso pode acarretar num custo alto para o caso das crianças, pois quando essa superestimulação é tirada, o cérebro conitnua acelerado e não consegue descansar, pedindo mais e mais estimulação.
É nessa hora que vem o suspiro e a cara aborrecida, como um protesto ao tédio percebido, como quem diz “estou entediado”.
Para os pais e as mães, na demanda frenética do dia a dia, acaba se tornando uma ferramenta útil para manter os filhos concentrados em algo, enquanto lidam com seus afazeres ou até mesmo para não incomodarem por certo tempo, como tem sido comum de ver em restaurantes, por exemplo, sempre um eletrônico nas mãos da criança para os adultos terem seu momento de tranquilidade.
Além desse, inúmeros são os exemplos que podem ilustrar como tem existido um certo esforço para evitar que a criança fique entediada. A questão é: fazemos isso por elas ou por nós mesmos?
Será que é um problema a criança ficar entediada? Será que isso não tem o seu valor para seu desenvolvimento?
Para as gerações anteriores, antes da era dos celulares e tablets, passear de carro, ficar por minutos ou horas, sentado no banco de trás, observando a paisagem, ou inventando brincadeiras com os pais e irmãos, ouvindo as músicas aleatórias da rádio, procurar o fusca azul, eram os entretenimentos do momento e se tornavam memórias incríveis da infância.
A imaginação e a criatividade tinham um grande poder e parece que essa ferramenta tão apreciada pelos psicopedagogos, acabou sendo um tanto esquecida nesse tempo.
O tédio pode ser uma grande oportunidade para estimular a imaginação das crianças. E pensando ainda um pouco além, é também uma ótima oportunidade para gerar vínculos, afinal, que pai ou mãe não gosta de ficar de bobeira, abraçado com seu filho, olhando pro céu ou até mesmo pro teto?
Bem, mas e como lidar com esse tédio e estimular a imaginação de uma criança?
Sugiro um teste. Deixe que ela fique entediada. Deixe que ela mesmo busque a estimulação de que o seu cérebro precisa.
Lembra quando a criança ainda era um bebê e ela mesma procurava como se entreter, mexendo nas panelas, abrindo as gavetas, rabiscando as paredes, tirando todos os brinquedos da caixa, transformando um papelão em foguete? É tipo isso.
No caso da criança apresentar dificuldades de se entreter sozinha, você pode tentar colocar em prática algumas dicas, vamos lá:
- seja o exemplo, não use por um tempo a tv ou computador, deixe de lado o celular e busque um livro para ler, algo fora dos eletrônicos para você fazer. Você sendo exemplo, pode inspirar a criança nisso também.
- incentive brincar com algo sem pilhas ou baterias. Não coloque a condição como um castigo, mas torne algo positivo, presenteie com algo diferente do eletrônico ou proponha um desafio, um jogo.
- quando a criança escolher um brinquedo, preste atenção no tipo escolhido: personagens de desenho, veículos em miniatura, quebra-cabeças, jogos de construção, jogos manuais, leitura. Você poderá entender como a criança gosta de se entreter e, então, estimular a imaginação ampliando esse tipo de jogo.
- se você notar que a criança está enfrentando dificuldades, brinque com ela. Pouco a pouco e em espaços de tempo curtos, vá deixando que ela brinque sozinha, evitando assim que seja criada uma dependência da sua presença.
- se a criança não descobrir nada que seja do seu agrado, ajude-a a reorganizar seus brinquedos. Será um bom momento para se desfazer de tudo aquilo que não é mais necessário. Doe para alguma organização e faça seu filho participar desse ato.
- recompense a autonomia infantil na gestão do tempo de ócio. Mostre interesse pelo que a criança faz, como faz, que novos projetos ela tem e do que precisa para colocá-los em prática.
- faça uma tabela semanal do tempo dedicado aos eletrônicos que estão disponíveis em casa. Coloque metas e cumpra-as.
- não dê alternativas de imediato, deixe ela mesma procurar ao seu redor aquilo que a atrai.
- recompense a autonomia infantil na gestão do tempo de ócio. Mostre interesse pelo que a criança faz, como faz, que novos projetos ela tem e do que precisa para colocá-los em prática.
- faça uma tabela semanal do tempo dedicado aos eletrônicos que estão disponíveis em casa. Coloque metas e cumpra-as.
Lembrando que nem todas as crianças são iguais e é possível que algumas não respondam bem diante da retirada ou redução das horas de exposição a um eletrônico como, por exemplo, o videogame ou a televisão, assim de imediato. Porém, vale lembrar que são essas que, provavelmente, mais estão precisando desse apoio para desapegar um pouco dessa necessidade de estímulo, por isso, é aí que deverá haver persistência por partes dos pais, que não devem se deixar levar pelas contínuas demonstrações de insatisfação por parte dos filhos, entendendo a importância disso para eles e para todos.
Afinal, os benefícios, sem dúvida, virão e serão sentidos e desfrutados por toda família.
Esperamos ter apoiado um pouquinho com este desafio em casa.
Um abraço para vocês.